Com o pior salário do Brasil, Policiais Civis morrem em defesa da população do Rio
Rio tem 233 ameaças por dia a policiais
29/08/11
Enquanto aumenta o cerco às grandes facções de traficantes e o braço corrupto das polícias se expande por meio de milícias, cresce em 2011 no Rio de Janeiro a incidência de ameaças contra PMs e agentes da Polícia Civil. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP) do Estado, de janeiro a junho 42.272 casos de intimidação a atuação policial foram registrados: uma média de 233 a cada dia ou nove por hora. Os dados indicam um crescimento de 12%, em relação ao mesmo período do ano passado, quando ocorreram 37.534 ameaças.
Um dos últimos episódios de violência contra policiais atingiu justamente o principal projeto da Secretaria de Segurança fluminense: as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Na segunda-feira, o soldado Silvério Miranda Coutinho Rodrigo, 26 anos, que atuava na UPP do Andaraí, foi morto com dois tiros na cabeça, quando dirigia seu carro, um Palio, na Estrada da Posse, Zona Oeste do Rio. As circunstâncias e autoria do crime são desconhecidas, mas, segundo a polícia, os disparos foram efetuados por alguém que estava na carona do carro.
Já no dia primeiro deste mês, o soldado Thiago Moraes Pontes, 29 anos, da UPP da Cidade de Deus foi assassinado, quando se deslocava em uma motocicleta e foi atingido por tiros, que partiram de ocupantes de um automóvel. “Realmente é possível notar uma elevação recente nos atos de intimidação, mas ela não se restringe à atividade policial. Não atinge apenas agentes públicos. É uma tendência no Rio de Janeiro”, admitiu ao Terra o presidente do ISP – órgão responsável pelo levantamento das estatísticas -, tenente-coronel Paulo Augusto Souza Teixeira, quando questionado sobre o crescimento dos números no ano em que o Rio teve o primeiro assassinato da história recente de uma juíza – a magistrada da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo (RJ) Patrícia Acioli.
Segundo ele, o crescimento do número de regiões sob controle de milícias é um dos aspectos determinantes para a elevação na incidência de ameaças. “Territórios ocupados por grupos de milicianos são propícios para ameaças. Há situações, por exemplo, em que é preciso verificar alvarás de bares e bailes em funcionamento de forma irregular, e as intimidações são frequentes”, detalhou.
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Críticas à falta de transparência nos números
A ausência de detalhes sobre ataques a policiais também é alvo de críticas de entidades da categoria. Hoje, por exemplo, os comandos das Polícias Militar e Civil não liberam o número total de policiais baleados em serviço a cada mês. As estatísticas também não são disponibilizadas no site do ISP, onde, de acordo com a legislação fluminense, devem ser publicados os dados de índices de criminalidade e da atuação policial.
Durante sete dias, a reportagem do Terra tentou obter estatísticas de PMS e agentes baleados em 2011. A assessoria de comunicação da Polícia Militar repassou a atual número de servidores mortos – cinco -, mas informou que “não tem levantamentos sobre casos de PMs feridos”. Já a assessoria da Polícia Civil alegou que não havia concluído uma pesquisa sobre o tema, solicitado na segunda, até as 17h de sexta-feira. O ISP apontou que o número só poderia ser divulgado pela duas corporações. Alguns blogs no Rio, com levantamentos independentes baseados em boletins de ocorrência, apontam que 2010 teria tido uma média de pelo menos um policial baleado a cada dois dias.
“Querem esconder da sociedade uma realidade. É falta de compromisso do governo do estado com a sociedade. Se fosse democrático e transparente não faria isso. Até mesmo para demonstrar o empenho da polícia”, afirmou o presidente da Associação dos Cabos e Soldados do Rio de Janeiro, Vanderlei Ribeiro.
“Estamos perdendo companheiros a cada mês e não há suporte do Estado, sequer para divulgar números, que precisávamos ter acesso, até mesmo para reivindicar medidas.” Com experiência de mais de duas décadas na PM fluminense, ele acredita que o Rio vive uma “nova onda” de ameaças a categoria. “Isso já era esperado, já que surgiram as UPPs e o crime organizado está sendo combatido. Mas o policial está isolado”.
Para o dirigente da associação, se estabelece um clima de “banalização” dos casos de ataques a policiais. “Quando é o caso de um general, um político, uma juíza, há empenho. Quando é um trabalhador comum é mais um número.”
Fonte: Jornal do Brasil