A Lição dos Bombeiros do Rio ao sindicalismo
Por: Danillo Ferreira
Sempre que uma categoria profissional reivindica junto ao patrão melhorias nas condições de trabalho, principalmente o incremento no padrão salarial, o grande desafio é chamar a atenção da população para sua causa, gerando prejuízos à imagem do empregador. O desgaste público costuma levar ao atendimento dos pleitos, geralmente de maneira parcial, pois uma “resposta” deve ser dada à “opinião pública”, seja o empregador privado ou estatal.
Para este último, ver-se encurralado pela opinião pública significa decrescer eleitoralmente, por isso procura diversos arranjos midiáticos para se justificar – desde o parcial release até práticas heterodoxas de comércio da informação. Neste contexto, a disputa entre as categorias profissionais reivindicantes e os governos é, na prática, uma disputa de mídia, de visibilidade. O movimento querendo aparecer, o governo neblinando as questões geralmente urgentes.
Num contexto de descentralização da informação, protagonizado pela internet e pelas mídias sociais, os empregadores conseguem cada vez menos esconder as mobilizações, e os impasses postos pelos movimentos. Não fosse este ambiente de comunicação em rede, provavelmente os recentes protestos dos Bombeiros Militares do Rio de Janeiro não teriam a dimensão que alcançaram, com repercussão internacional. Não foi raro ver perfis em redes sociais estampando o vermelho dos “Guerreiros do Fogo”.
Mas a existência das mídias sociais explica apenas a facilidade com que a situação dos bombeiros foi exposta, carecendo ainda entendermos o porquê de tamanha adesão à causa. Certamente, isto se deu pela empatia da sociedade com o trabalho dos bombeiros, que é eminentemente comunitário e solidário. Como fazem os policiais em muitas circunstâncias de seu serviço, os bombeiros salvam vidas, mas não usam armas de fogo, não prendem, ferem ou matam para garantir a integridade de inocentes. Sem falar nos casos repudiáveis de corrupção e desvios que surgem no seio das corporações policiais.
Fica evidente que o apoio popular a uma categoria, em algum grau, carece da identificação da nobreza no serviço prestado por ela. Nunca policiais tiveram adesão popular como se viu com os bombeiros cariocas ultimamente. Talvez as polícias, e os policiais individualmente, adquiram este luxo quando se preocuparem efetivamente em implementar estratégias de parceria comunitária, investindo menos na repressão, exercendo a dimensão cidadã que é gênese de suas funções.
Por outro lado, nada está garantido, pois mesmo com a chancela da sociedade às causas trabalhistas, governantes insistem em desdenhar das categorias, e do povo. Historicamente tem sido assim com os professores brasileiros, assim como a batalha dos bombeiros do Rio ainda não lhes rendeu aumento salarial digno. Mas se o apoio popular não proporciona a devida atenção às reivindicações, ao menos serve para expor as fraturas da combalida democracia brasileira.
*Danillo Ferreira é tenente da PMBA, associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e autor do blog Abordagem Policial (www.abordagempolicial.com).